Adolescência em questão
Publicado em : 21/02/2020
Adolescência em questão
por Felipe Souto*
Falta de sono na hora de dormir, sono demais na hora de levantar, preguiça para realização de tarefas de casa, preguiça para leitura, tempo em excesso nos eletrônicos, conflitos com a família, quarto sempre desarrumado. Se você é mãe, pai ou responsável de um pré-adolescente/adolescente, você provavelmente já presenciou pelo menos uma das situações acima. Não se assuste porque a grande maioria desses “sintomas” é natural, porém passageira.
Como Orientador Educacional do 7° Ano, tenho percebido que, em boa parte dos atendimentos às famílias, alguns dos itens citados acima aparecem durante a conversa. Sempre digo que a angústia apresentada pela família é muito natural, afinal o filho está em um dos períodos de maiores mudanças que sofrerá ao longo de toda sua vida: a transição da infância para a fase adulta.
O mais interessante é que em várias das situações relatadas, os próprios adolescentes não têm culpa alguma do que estão passando, afinal existem vários fatores biológicos envolvidos. Para exemplificar isso, a pesquisadora Mônica Geraldi Valentim, em sua tese de doutorado, mostrou que a preguiça comum dos adolescentes é um processo biológico natural relacionado à restauração do organismo [1]. Mas e o que fazer? Apenas aceitar que o processo é natural e deixar que o filho controle os seus próprios horários, definidos por uma condição biológica?
Penso que não... Daí a importância de a família estabelecer uma rotina de horários bem definida com os filhos. É importante montar um cronograma que seja executável, dentro das condições de cada um. O ideal é que haja tempo para estudo, realização de tarefas de casa, realização de leitura, horário para dormir, mas também se torna necessário tempo para descanso, atividade física [2], lazer [3]. E através dessa rotina bem definida é possível permitir que o adolescente cumpra o tempo de sono recomendado pelos especialistas (8 a 10 horas diários). Quando essa rotina não é estabelecida, os sintomas da “preguiça adolescente” se tornam mais evidentes, surgindo então a preguiça ao acordar para ir à escola, ao realizar uma tarefa, e assim por diante.
Outro fator que incomoda bastante os pais de adolescentes é o tempo em que os filhos gastam conectados à internet. Estudos mostram que crianças e adolescentes chegam a gastar em média 5 a 7 horas por dia conectados ao aparelho celular [4], números esses que estão bem distantes do recomendado (apenas 2 horas diárias) [5]. Para tal problema, não basta apenas a proibição por parte dos pais. É importante dialogar sobre a administração desse tempo de uma maneira saudável. É importante também lembrar que, em muitos dos casos, os pais também passam bastante tempo fazendo uso do celular, o que acaba afetando a relação com o filho.
Todos os itens falados até aqui, geralmente acabam gerando diversos conflitos entre pais e filhos. Sempre recomendo o diálogo para resolução dos mesmos. E para que isso aconteça, sugiro algumas ações:
- Escute o seu filho - Ouvi-lo (sem julgamentos) é fundamental para uma boa relação;
- Negocie quando possível - É preciso entender que em alguns momentos os filhos têm razão;
- Saiba lidar com as diferenças entre as gerações - Para isso, pode ser necessário que os pais tenham que conhecer um universo bem diferente do que estão acostumados;
- Tenha tempo com o seu filho – Somos frutos das nossas experiências vividas [6]. Use de momentos simples do cotidiano para proporcionar excelentes experiências aos seus filhos.
Em vista de todos os argumentos apresentados até aqui, peço que os pais de pré-adolescentes/adolescentes entendam que tudo que os filhos têm manifestado até agora fazem parte do processo natural da vida, e que, apesar das dificuldades é possível sim que ambos usufruam dessa fase da vida com qualidade. O que vai gerar mudança de comportamento é o tipo de intervenção feita pela família, a qualidade do diálogo, dos combinados e consequências advindas de algum descumprimento do que foi estabelecido entre as partes, no caso, pais e filhos.
[1] Disponível em - https://bit.ly/3bSp4TS
[2] Disponível em - https://bit.ly/2P9havo
[3] Disponível em - https://bit.ly/3bUHfIG
[4] Disponível em - https://bit.ly/2HBDTwf
[5] Disponível em - https://bit.ly/2ugm82q
[6] Disponível em - https://bit.ly/2V4L33L
* Felipe Souto é Mestre em Genética e Biologia Molecular e Orientador Educacional do 7° Ano na Escola Interamérica – Unidade II.